Mas pouco é dito sobre o processo inverso: com o passar do tempo, recebemos implantes e acessórios que nos transformam em verdadeiros ciborgues. A cada novo avanço, estamos nos distanciando da figura humana natural e de proporções perfeitas, como no conceito do Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci, que é a base do infográfico deste artigo.
Há anos o ser humano recebe implantes eletrônicos como o marca-passo, as próteses de membros e até operações temporárias envolvendo órgãos artificiais. Aqui, contudo, abordaremos as tecnologias que prometem levar nosso corpo para limites nunca antes atingidos – cada vez mais perto da divisa entre homem e máquina.
O display que tudo vê
O primeiro avanço é um acessório. Revelado no final de abril por pesquisadores alemães da Fraunhofer IPMS, o primeiro microdisplay direcional de rastreamento visual é um monóculo, que serve para exibir informações refletidas diretamente no globo ocular do usuário.
A partir do uso de realidade aumentada, é possível ler sem problemas as informações exibidas na tela. Movimentos específicos do olho seriam utilizados para alternar entre as diferentes opções do aparelho.
(Fonte da imagem: Fraunhofer / IPMS)
Como vários aparatos de alta tecnologia, inicialmente o microdisplay será exclusivo para fins militares. Enquanto não há previsões para utilizá-lo de forma comercial, só nos resta sonhar com o que é especulado: o display poderia servir para assistir a vídeos, reconhecer sinais vitais e até obter informações sobre as pessoas captadas pelo sensor, através de redes como o Facebook.
Um grande salto para a humanidade
(Fonte da imagem: Össur)
Implantes que devolvem a capacidade de andar a quem perdeu a perna por algum motivo não são as mais recentes novidades no mundo da tecnologia. O destaque é o avanço conquistado na área, permitindo o desenvolvimento de próteses cada vez mais impressionantes.
A empresa Össur anunciou o desenvolvimento da prótese biônica mais avançada até então. A grande novidade é a integração entre os mecanismos que simulam o pé, o joelho e a perna, fazendo com que não seja necessário calcular com precisão cada passo durante uma caminhada.
A união entre poderosos sensores e esses aparelhos, que apresentam o que de mais avançado há em biomecânica, proporciona uma inteligência artificial única para a prótese, que se torna capaz de ajustar-se automaticamente para funcionar sem problemas em terrenos com superfície rochosa, por exemplo.
No futuro, ter uma perna biônica mais rápida, forte e resistente será bem mais vantajoso do que uma perna humana.
A mente domina os braços
(Fonte da imagem: Ryerson University)
Próteses nos braços também já existem, mas o que foi desenvolvido por estudantes da Ryerson University, no Canadá, vale a citação: o Artificial Muscle-Operated (AMO), uma prótese cujos movimentos são controlados por ondas cerebrais.
O movimento desejado vai do cérebro a um sensor, que identifica e envia esses dados para um minicomputador localizado no aparelho, que enfim executa a ação. Os músculos artificiais realizam movimentos bastante humanos, como contração e expansão, tudo através de ar comprimido, localizado em um tanque que pode ficar no bolso do usuário.
Outro pioneirismo do invento é que a implantação ocorre sem a necessidade das chamadas cirurgias invasivas, um processo de realinhamento muscular que encarecia os custos médicos. Desse modo, o mesmo principio da perna biônica se aplica aqui: o braço robôtico pode ficar melhor que o nosso.
Por enquanto, o aparelho ainda tem limitações, como a necessidade usar também um capacete para controlar os movimentos. Mas alguém duvida que essa barreira também será ultrapassada em breve?
Sentindo na pele
A nanotecnologia já está entre nós. Apesar de ser um avanço lento, complexo e que demanda altos custos, ela parece valer a pena, principalmente quando pode ser usada para a medicina – e para deixar o corpo humano ainda mais desenvolvido.
A inovação em questão veio do MIT, o Instituto Tecnológico de Massachusetts: a criação de partículas microscópicas em forma de nanotubos, que agem como um sensor biométrico. Implantadas em qualquer parte do corpo, elas não alteram o funcionamento de nenhum sistema e não são absorvidas por qualquer outra atividade do organismo, como a digestão.
(Fonte da imagem: MIT)
Mas qual é o objetivo de implantar esses dispositivos minúsculos? Por enquanto, os estudos apontam para um diagnóstico imediato, pois alguns elementos químicos presentes nas partículas estão preparados para reagir e emitir um brilho diferenciado quando algo está errado no corpo do paciente, como o surgimento de um tumor, por exemplo.
Além disso, esses sensores podem ganhar novas funções, como a capacidade de automedicação. Desse modo, com a ocorrência de anormalidades, remédios presentes nesses nanotubos seriam imediatamente liberados no sangue, eliminando a necessidade de ingerir pílulas ou realizar baterias de exames, por exemplo.
Está tudo em sua cabeça
Já pensou em controlar eletrônicos sem a ajuda de nenhum controle remoto? A solução é simples: implante um chip com a tecnologia RFID! Agora é só instalar um leitor que use o mesmo mecanismo em seus aparelhos, para fazer com que ele reconheça o sinal transmitido pelo chip.
(Fonte da imagem: dvice)
São inúmeras as utilidades que isso pode proporcionar. Com o devido desenvolvimento dessa tecnologia em escala comercial, seria possível abrir portas, desbloquear celulares, computadores e outros gadgets que operem hoje com senhas ou identificação biométrica, por exemplo. Segundo os pesquisadores da área, a cirurgia de implantação e a permanência do chip não causam nenhum efeito colateral no usuário.
Nada natural
Com o avanço da idade, é perfeitamente natural que nossos órgãos comecem a apresentar falhas. Para alguns cientistas, entretanto, isso está errado. Esses componentes do nosso organismo não precisariam envelhecer e parar de funcionar, porque sua criação ou composição seria artificial.
São duas as possibilidades: criar um órgão totalmente mecânico ou desenvolver uma “cópia”, a partir de células-tronco do paciente. A produção em massa desses órgãos, se superados problemas como custos e compatibilidade do organismo do paciente, poderia diminuir consideravelmente a fila de transplantes em hospitais.
A Espanha é um país pioneiro nessas pesquisas, prometendo para até dez anos o início da produção efetiva de órgãos bioartificiais. Como a maioria dos experimentos, apenas a substituição em animais foi efetiva até agora. Mas dá para manter as esperanças, afinal esse é sempre o primeiro passo para aprovar o uso de novas tecnologias em humanos.
Por Nilton Kleina
Apresentado no Cybernics International Forum deste ano, o exoesqueleto HAL (Hybrid Assistive Limb) vem cheio de promessas e esperança para as pessoas portadoras de algum problema motor ou muscular que impede ou dificulta a locomoção. Além disso, a “roupa” melhora algumas capacidades humanas, como a força. O funcionamento em detalhes.
O HAL em detalhes (Fonte da imagem: Cyberdyne)
A pesquisa e suas aplicações
Segundo o professor Yoshiyuki Sankai, responsável pelo projeto, presidente e CEO da Cyberdyne, enquanto a maioria dos países e empresas estão preocupados em armamento ou melhorias para as tecnologias já existente, o Japão concentra boa parte de seus esforços em melhorar a qualidade de vida daqueles que possuem alguma dificuldade de locomoção.
Ainda não se sabe quando o HAL estará disponível no mercado nem quanto vai custar. Os testes e as demonstrações parecem promissores, mas ainda há alguns ajustes e melhorias a fazer.
Criado por professores e alunos da Universidade de Tsukuba e desenvolvido pela Cyberdyne, o traje detecta, através da pele, os impulsos elétricos enviados pelo cérebro para os músculos. Em seguida, esses impulsos são enviados para os motores presentes no traje, os quais reproduzem o movimento humano.
Qualquer movimento humano tem seu início no cérebro. Quando uma pessoa tem a intenção de se mexer, sinais nervosos são enviados do cérebro para os músculos, reproduzindo o movimento desejado. Alguns sinais podem ser detectados através da pele, e é aí que o traje da Cyberdyne entra.
Utilizando sensores que estão em contato com a pele do usuário, o HAL é capaz de captar os impulsos nervosos enviados pelo cérebro. Baseado no tipo de sinal recebido, o traje é capaz de decidir quais peças movimentar, reproduzindo assim o movimento das juntas do corpo humano.
O traje completo pesa aproximadamente 23 kg e é alimentado por uma bateria com aproximadamente três horas de autonomia.
Isso, de acordo com Sankai, traz um desafio ainda maior, pois não basta construir uma máquina, é preciso entender as necessidades de cada indivíduo separadamente e desenvolver uma tecnologia que consiga atender ao maior número de pessoas possível.